Tenho notado com olhos críticos essa onda de comportamento verde. As pessoas estão preocupadas em andar mais de bicicleta, comida orgânica, coleta seletiva e outros comportamentos mais radicais. Não que eu não ache isso tudo bacana, mas me irrita um pouco que isso seja tão valorizado enquanto as pessoas continuam desperdiçando coisas.
Um dos fatores que mais sustenta o nosso sistema e que mais provoca a degradação da natureza não é só o consumismo, é o consumismo agravado pelo desperdício. Desperdício de energia, luzes acesas à toa, ventiladores ligados. Desperdício de produtos de limpeza, de esponjas, de panos, de trapos, de papéis, de canetas, de pastas de dentes, de xampus, de sabonetes, de comida, de combustível, etc, etc, etc. Eu não vejo as pessoas se incomodando com essas coisas “pequenas”, mas que no fim do dia acabam tornando qualquer outro esforço “verde” em pura demagogia. Eu simplesmente não vejo as pessoas se esforçando para reduzir o desperdício e o consumo. Ora, de que adianta reciclar mil tetrapacs de leite se no processo você jogou mais da metade do leite fora porque você deixou o leite azedar? saca? Eu vejo muito isso.
Outra coisa negativa é a exploração marketeira dessa imagem ecologicamente correta. Vivo recebendo panfletos em papel reciclado de um certo banco. Amigo, de que adianta o panfleto ser de papel reciclado se ele vai direto para o lixo? D-e-s-p-e-r-d-í-c-i-o!
Vivemos um grande desafio ético: como salvar o planeta se nossa própria existência provoca a sua degradação? É extremamente difícil, eu sei, mas enche meu saco esses discursos e comportamentos prontos. Me parece que não é genuíno, me soa falso, me soa como modinha da vez: vamos dar a volta ao mundo de bicicleta e de mãos dadas, que lindo, ao fundo ouço uma musiquinha fofa, cantada por uma cantora de voz infantil acompanhada de um ukelelê. O slogam em fonte gill sans no final: “faça sua parte”, fechando com um close na garotinha sorrindente!
Hmpf!