Bons filmes no Amazon Prime

Acho que o Prime tem mais opções boas do que o concorrente Netflix. Fiz uma lista dos filmes a que assisti recentemente e que achei bons:

1. The dry

Gênero: suspense

Diretor: Robert Connolly

País: Austrália

⭐⭐⭐

Suspense estrelado por Eric Bana (um dos incríveis Hulk). O personagem retorna pra sua cidade natal pro funeral de um amigo. Os pais do amigo falecido pedem que ele investigue o caso. Não é um super filme, mas acima da média dos filmes do gênero. O ritmo é bom, os personagens têm alguma profundidade e mantém o interesse até o final.

2. Where d’you go Bernadette

Gênero: drama com toque de humor

Diretor: Richard Linklater

País: EUA

⭐⭐⭐

Estrelado pela Kate Blachet e dirigido pelo Richard Linklater, diretor que gosto bastante (trilogia Before sunrise, School of Rock, Boyhood), conta a história divertida de uma arquiteta porra-louca e que odeia gente, em crise existencial (poderia ser eu? 😆)

3. Guerra fria

Gênero: romance/drama

Diretor: Pawel Pawlikowski

País: Polônia

⭐⭐⭐

História de amor que acontece durante a guerra fria, filmado em p&b, o enredo parece um clássico hollywoodiano de amor impossível.

4. The world to come

Gênero: romance/drama

Diretora: Mona Fastvold

País: EUA

⭐⭐⭐

Estrelado por Katherine Waterston, que reconheci da saga Fantastic beasts… que eu pra encurtar chamo de Harry Potter e os bicho. É um Brokeback mountain de época, com casal de lésbicas. E claro que por serem mulheres as consequências são infinitamente piores. Bem melancólico.

5. Le bal des folles

Gênero: drama

Diretora: Mélanie Laurent

País: França

⭐⭐⭐

A diretora Mélanie Laurent e também atriz no filme é a loira do Bastardos Inglórios. O filme de época conta a história de uma moça internada à força num manicômio, depois de alegar conversar com os mortos. Ele mostra o tratamento dispensado às mulheres num manicômio daqueles tempos, vítimas de todo tipo de abuso e maldade, que eram impostos em nome da ciência.

6. Women talking

Gênero: drama

Diretora: Sarah Polley

País: EUA

⭐⭐⭐⭐

Ganhador de Oscar de melhor roteiro adaptado, tem no elenco só atrizes boas: Claire Foy, Rooney Mara, Jessie Buckley, Francis McDormand, entre outras. O filme é isso mesmo: um bando de mulherada reunidas num celeiro pra decidir o que fazer depois de serem estupradas por homens da sua colônia religiosa (elas pertencem a um tipo de seita isolada, como os Quackers ou Amish). Fiquei com receio de ser um trem meio mala, mas é muito bom mesmo. Minha leitura é que a conversa serve como metáfora pra realidade das mulheres que sofrem com a violência do machismo nos nossos dias, ou seja, praticamente todas nós.

7. The covenant

Gênero: drama

Diretor: Guy Ritchie

País: EUA

⭐⭐⭐

Embora não seja muito fã do ex da Madonna (que óminho mais vaidoso), gostei desse filme que tem o Jake Gyllenhaal no papel de um sargento que é salvo por um intérprete durante uma ação que deu ruim durante a guerra do Afeganistão.

8. Compartment number 6

Gênero: drama

Diretor: Juho Kuosmanen

País: Finlândia

⭐⭐⭐

Segundo o Guardian é o Before Sunrise finlandês. Não é bem isso. Vamos dizer que Before Sunrise é sobre um casalzinho tipo @a.vida.de.tina enquanto esse filme é sobre um casal mais roots, ele russo que vai trabalhar numa mina de carvão e ela uma estudante de arqueologia. Eles se conhecem num trem rumo a uma cidade no norte da Rússia. Bem fofo.

O Bispo

Entrei no prédio moderno e meio perdida nem me dei conta da obra logo ali na minha frente. Tinha na memória a lembrança da exposição dos 500 anos no Ibirapuera. Foi impactante.

Arthur Bispo do Rosário. Louco. Artista.

Aguardei o movimento das pessoas que entraram ao mesmo tempo e se esbarravam umas nas outras pra ver de perto os bordados repetidos, feitos com a linha tirada do uniforme do paciente (ou detento) do manicômio.

O acúmulo de várias emoções dos últimos dias se transforma em lágrimas ao ver tanta arte de quem menos se espera, de quem é marginalizado e considerado inútil. O que é ironicamente verdadeiro de acordo com o filósofo indígena Krenak: a vida é inútil. E não que isso seja ruim.

Agradeço a máscara e os óculos, bons disfarces. Só que quanto menos quero me emocionar, mais as lágrimas escorrem. “As lágrimas da Cátia jorram, não escorrem”. Disse D. Lúcia, minha primeira professora pra minha mãe quando briguei com um coleguinha na sala de aula.

Nas quinquilharias ordenadas do Bispo reconheço a bagunça do meu pai no sótão de casa. Meu pai não tinha uma missão, não era místico. Busco motivo pras suas “loucuras” pra também me entender. Um possível autismo, bipolaridade, TOC, acumulador. A verdade é que a normalidade é que é a verdadeira prisão. Foi no confinamento que o Bispo encontrou o espaço pra ser humano e conferir humanidade a todos aqueles que passaram por sua vida, e reconheceram sua aura azul, nomeados nos bordados.

Me emociono e me reconheço tão humana quando uivo, rosno, berro como uma louca quando me deparo com situações que não consigo controlar dentro da normalidade do que é a nossa vida ideal.

A loucura é o refúgio da normalidade que nos impõe sofrimentos inomináveis para nos conformar ou nos excluir, no caso dos negros, como o Bispo.

De certa forma ele é mesmo o Salvador das almas através de sua obra.

Amém.

São 22h44. É a segunda vez que me levanto da cama para acalmar minha mãe que se levantou achando que era hora de tomar banho. Coloquei ela de volta na cama, dei um pouco de água e passei um gel calmante nas bochechas queimadas de frio. O papai acorda e finge que está dormindo.

Me sinto velha. Velha e feia. E cansada.

Fui ao parque de tarde, fui andando sozinha. Estava frio. Os macaquinhos apareceram atrás de comida. Uma gracinha. Me sentei no meu lugar preferido e fiquei descansando e observando a paisagem. Um casal sentou na grama, e ficaram namorando. Fotografei os dois na contra-luz, com o lago e as árvores. Ficou bonito. Queria ser eu ali. Coloquei O milagre dos peixes do Milton Nascimento e fiquei ali um tempo. Foi bom, bonito, muita paz. O sol estava quente e o vento gelado. Quando me dei conta já era hora de voltar.

Levantei e vim embora. No caminho comprei uma água de côco. Parei pra fotografar o Tietê, triste e já fedido. Mas ainda bonito. O rio onde meu pai nadou quando era criança, onde ele caçava rã com os amiguinhos. Onde ele foi picado por uma cobra quando caçava passarinho com os mesmos amiguinhos. Hideo e Tadao. Tadao correu buscar um peruzinho, colocou meu pai sentado e foi empurrando até a farmácia Sta Terezinha. Minha batchan ficou desesperada. Conseguiram o antídoto, mas era preciso esperar pra saber se funcionou. Que agonia! Imagino meu pai com aquela carinha da foto num cavalinho de pau. Uma carinha meio aflita, meio tímida. Imagino que era o xodó da mamãe. O mais novinho dos irmãos.

A batchan fazia malabarismo com seis laranjas e o irmão mais velho Satio queria aprender, mas derrubava as laranjas. A batchan ria. Tocava gaita também essa vó japonesa que eu não conheci. Dela minha mãe contava que se sentou justo em cima da almofada que colocaram pra disfarçar o buraco no sofá e lá ficou entalada no dia do noivado. Também tinha um sotaque forte: “Sumio é um farra!”

Boa cozinheira, amigos do papai sempre apareciam para filar um rango. Um deles ganhou o apelido de Zé Lanchinho.

Dona Rosa Kinko Kitahara, ou Kitahara Kinko, Tomita nome de solteira. Veio com a família do Japão. Levava meu pai para visitar a mãe no bairro da Liberdade em São Paulo. Meu pai ficava impressionado com as mãos transparentes da sua batchan, tão velhinha que dava pra ver as veias.

Essas lembranças meu pai me conta com uma inocência de criança ainda. São lembranças que ele guarda na memória e gosta de repetir. Como no dia em que foi atender ao telefone numa mercearia porque não tinham telefone em casa. Ele nunca tinha falado em um telefone antes e o dono da mercearia gritou com ele porque tinha medo de falar. A batchan o consolou.

Também me conta que ia buscar a mãe e a amiga, mãe da Wanda Takahashi, no cinema. Toda quarta ou quinta-feira o Cine Avenida tinha sessões de filmes japoneses e a colônia comparecia em massa. Levavam lanche de pão com mortadela e passavam o dia no cinema. Como só voltavam à noite, meu pai ia buscá-las, a pé mesmo.

Gosta de contar do cachorro do ditchan, cachorro da raça colie (ele pronuncia com o ‘o’ fechado), tão inteligente que ia buscar carne no açougue do mercadão (mercado municipal) e trazia embrulhada na boca, sem cair na tentação de comê-la.

Levanto de novo, mamãe está falando alto. Aproveito pra cobrir o papai que está acordado e me pergunta sobre seus ternos. Onde eu os coloquei? Estão lá no quarto, pai, já falei pro senhor. Tá, quando eu morrer quero que coloque tudo no caixão comigo. Quero que coloque o terno em mim, que nem o Satio. Estava de terno, é velho, mas tem que ser de terno. Credo pai! Que coisa!! Dou risada e cubro ele dizendo que não vai morrer nada.

Volto pra cama e choro. A mamãe ainda continua falando alto. Parece que está falando no telefone, combinando alguma coisa com alguém. Adormeço e durmo profundamente até acordar sobressaltada. Será que estão bem?? Entro no quarto, mamãe ronca de boca aberta igual a vó Geralda. Papai dorme de lado. Tudo em paz. Volto pra cama.

Falando com as paredes

ouço a chuva cair

choro pelo cão e pelo polvo,

choro por meus pais

“a cada mil lágrimas sai um milagre”

quero arrebentar minha mente e libertar esses pensamentos/sentimentos que enchem minha cabeça

prisioneira de mim mesma, da minha vida.

when I cannot sing my heart I can only speak my mind

Sem tempo, irmão

No durante e no pós pandemia, uma constante: cansaço. Sentimento que se acomodou dentro de mim e se confunde com a apatia.

Sem dramas, ignoro meu coração. As batidas, antes descontroladas, agora seguem num motocontínuo. Nada mais parece ser capaz de alterá-las. Seguem e nada acelera ou retarda o seu ritmo.

Travesseiro seco, sem manchas de lágrimas. Não me decepciono, nada me abala. Tudo previsto no enredo dessa vida que se encaminha pra metade final, ou melhor: o terço final.

O que me segura aqui se arrasta numa rotina que não suporto, mas que me vai deixar um vazio tão grande que inevitavelmente serei tragada para dentro.

A minha promessa não se cumpriu a tempo. Era fogo de palha e agora só sobraram as cinzas.

O tempo e o vento vão se encarregando de espalhar. Eu mesma, sem tempo, irmão.

Estou me guardando pra quando o carnaval chegar

Sentimentos contraditórios neste não-carnaval. É claro que queria estar num bloquinho, suada, bêbada, rouca, fazendo coreografia do último hit do verão, cantar todas as marchinhas das antigas. Invejo a galera que saiu na marra nos blocos do Rio, eu queria muito estar lá.

Mas

Mais de 600 pessoas ainda morrem diariamente, COVID saiu da página principal dando lugar para BBB, guerra e qualquer bobagem.

Meus pais seguem isolados, saindo pouco ou nada, mesmo com três vacinas. Você arriscaria a vida de quem você mais ama??

Pra mim, carnaval será quando o coiso e toda sua corja for pra cadeia!

Antes disso, é só a volta dos que não foram.


Depois da tempestade um arco-íris tímido ameaçou se formar no céu. Arrastei meu pai pro meio da rua pra poder ver.

“- Nossa, fazia anos que não via isso!”

Papai

Nascimento

Ouvir o Milton é como voltar pra dentro da barriga da minha avó.

É como deitar no chão e sentir o vento soprando o mato, olhar pro céu, ver a nuvem e o sol por trás.

É voltar lá pra onde a paz reinava entre lençóis coarando no varal.

Um pássaro voando lá no alto.

Ouvir o Milton é consolo de mãe, é saudade matada, é dor curada.

Ouvir o Milton é uma oração atendida.

Meus pais são tão velhinhos e frágeis. Minha mãe mal consegue guardar o motivo de estarmos de máscaras, meu pai já acompanha pela TV e fica impressionado com as notícias. Eu aqui tentando tomar todo cuidado do mundo, com as mãos ásperas de tanto lavar, limpar e recomeçar tudo de novo, lavar roupa, limpar os pés, calçar sapatos, tirar sapatos, calçar chinelo, por máscara, tirar máscara, coçar os olhos, não pode, respirar, não pode. Tocar, não pode. Espirrei, é alergia ou estou doente? Tossi, a garganta está seca ou estou doente? Essa roupa, está limpa ou está usada? Eu já passei álcool nessa mesa? Onde coloco essa sacola de compras? Eu não quero que meus pais morram sozinhos, sufocados. E se eu morrer?? Quem vai cuidar deles? Preciso me destrair, não vou pensar mais, vou fazer umas poses de yoga do vídeo do Buzzfeed, não adianta. Renovo o aluguel? Vou ter dinheiro? Porque estou me preocupando? Eu sou privilegiada, as pessoas estão comendo do lixo, tacaram fogo nos barracos dos moradores de rua do lado de casa!! Foi o vizinho? Roubaram minha lixeira de plástico, fecharam meu registro. Foi o vizinho fascista ou foi um morador de rua? Eu preciso comer direito, dormir direito, viver direito. Minhas tias e meu tio como estão? E esse moço trabalhando de segurança à noite, e esses motoboys e ciclistas, fazendo entregas dia e noite, sem nenhum cuidado, essa merda de iFood, merda de tudo, merda de país, merda de presidente! E se o Brasil virar um Haiti, uma Síria?? Parece que o país está se desmanchando. Eu não reconheço mais isso tudo. Meme, meme, meme, meme, meme, meme, meme. Preciso ler alguma coisa que preste. Quando foi a última vez que vc leu alguma coisa?? Aaaaaaaahhhh Lava as sacolas, lava tudo na dúvida. Sacola de praia, precisa lavar? Quando vou poder ir a praia de novo? Calma, isso vai passar. Vai? E as crianças? E os idosos?? E os índios??