Entrei no prédio moderno e meio perdida nem me dei conta da obra logo ali na minha frente. Tinha na memória a lembrança da exposição dos 500 anos no Ibirapuera. Foi impactante.
Arthur Bispo do Rosário. Louco. Artista.
Aguardei o movimento das pessoas que entraram ao mesmo tempo e se esbarravam umas nas outras pra ver de perto os bordados repetidos, feitos com a linha tirada do uniforme do paciente (ou detento) do manicômio.
O acúmulo de várias emoções dos últimos dias se transforma em lágrimas ao ver tanta arte de quem menos se espera, de quem é marginalizado e considerado inútil. O que é ironicamente verdadeiro de acordo com o filósofo indígena Krenak: a vida é inútil. E não que isso seja ruim.
Agradeço a máscara e os óculos, bons disfarces. Só que quanto menos quero me emocionar, mais as lágrimas escorrem. “As lágrimas da Cátia jorram, não escorrem”. Disse D. Lúcia, minha primeira professora pra minha mãe quando briguei com um coleguinha na sala de aula.
Nas quinquilharias ordenadas do Bispo reconheço a bagunça do meu pai no sótão de casa. Meu pai não tinha uma missão, não era místico. Busco motivo pras suas “loucuras” pra também me entender. Um possível autismo, bipolaridade, TOC, acumulador. A verdade é que a normalidade é que é a verdadeira prisão. Foi no confinamento que o Bispo encontrou o espaço pra ser humano e conferir humanidade a todos aqueles que passaram por sua vida, e reconheceram sua aura azul, nomeados nos bordados.
Me emociono e me reconheço tão humana quando uivo, rosno, berro como uma louca quando me deparo com situações que não consigo controlar dentro da normalidade do que é a nossa vida ideal.
A loucura é o refúgio da normalidade que nos impõe sofrimentos inomináveis para nos conformar ou nos excluir, no caso dos negros, como o Bispo.
De certa forma ele é mesmo o Salvador das almas através de sua obra.
Amém.
Que experiência emocionante, Katia. Até que ponto podemos nos considerar normais? A utilidade da arte revelando a verdadeira sanidade da alma.
beijo, menina