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Veias entupidas de bolachas

atravessam um coração vazio.

Com a barriga cheia, mas a mente oca,

Mente louca!

olho meu corpo nu.

Na cama vazia no começo da noite

Dia longo, ouço a chuva silenciosa

Penso no carnaval chegando

Invento fantasias

Quem é você?

“- Coleciono saudades!”

E você?

“- Posso ter pensamentos coloridos!”

E eu?

Desenho poemas sem rima.

Coração quadrado

Coração quadrado

Coração quadrado

Coração quadrado

Coração quadrado

Coração quadrado

Vai caindo

Vai quebrando

Vai partindo

Se esfolando

Quica no asfalto

E toma força pra voar alto e cair de novo

Com mais força

Quantas vezes um coração quadrado precisa se partir pra voar livre e redondo??

Movida a raiva!

Com o coração quadrado,

como pipoca de milho transgênico salgada com o câncer do trabalhador.

Horror, horror, horror.

9, 111, mais de 200, a cada 4 uma.

Dor, dor, dor

O violador eres tu!

Não posso, não quero e não consigo. Não sou grande nem pequena. Não sou nada.

Absurdo é passar 6 horas 8 horas ganhando dinheiros para sustentar pequenas vaidades. Até ficar cega, até ficar tonta, até ficar louca. Cega e louca de raiva.

Que vida mais besta!

Me alimentando de migalhas de afeto.

Raspas e restos me interessam.

Ode ao meu corpo

Olhando no espelho, nua, hoje eu me amei. Amei meu corpo, magro e estranho, de seios pequenos e ossos saltados. De quadris estreitos que nunca vão carregar uma cria. Amei minhas pernas fortes e grossas, que me impulsionam pro fundo do mar atrás de peixinhos, tartarugas, mas que também me impulsionam para o alto das montanhas, da serra de São José, do morro do Pai Inácio, do pico do Itacolomi. Amei meus braços fortes e longos que me ajudam a nadar dois quilômetros em uma hora, que carregaram meus sobrinhos e também meu pai no colo. Amei minhas mãos de dedos compridos que desenham com a habilidade dos meus ancestrais no Japão. Amei meus olhos escuros e levemente puxados, mestiços. Minhas olheiras escuras, meus lábios grossos. Amei meus cabelos escuros e volumosos. Amei minhas orelhas pequenas e meu pescoço grosso. Amei meus dentes separados, grandes. Amei até minha barriguinha que acumula a pouca gordura que trago no corpo. Amei minhas cicatrizes, até essa que atravessa minha barriga longitudinalmente de cima a baixo como um foguete. Essa que acumula quelóide e repuxa minha pele, mas que lembra as noites sem sono de meus pais preocupados se eu sobreviveria ou não. Por quanto tempo mais vou ter esse corpo? Esse corpo que me custou tanto para amar e aceitar? Esse corpo magrelo, pau de virar tripa como minha mãe me chamava. Muita gente me confundiu com um menino. E já com quase trinta me deram treze anos. As amigas me olham com inveja porque tudo que eu visto me serve. Mentira. Nunca tive uma única calça jeans que não apertasse nas coxas e sobrasse na bunda. Um único sutiã que me servisse, que não sobrasse nos seios e apertasse nas costas. O único padrão que existe é reprimir as mulheres pra que elas não amem a si mesmas e seus corpos e achem que seus corpos servem para agradar aos desejos sexuais dos homens. O único padrão é satisfazer o gosto masculino. Até que finalmente resolvi que não vou usar mais sutiã, porque o único motivo pra usar é pra evitar o olhar predador dos homens. Ninguém gosta de peitos pequenos, mas mesmo assim os putos não me deixam em paz se meus mamilos se arrepiam por baixo da blusa. Um dia o tempo vai me dar outro corpo, outro corpo que eu já não vou controlar e a vida é curta demais pra eu não amar meu corpo hoje, pra eu não me amar. Por isso hoje eu olho pra minha imagem e me abraço com amor. Espelho, espelho meu, não existe ninguém nem mais linda e nem mais feia do que eu!